A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL DURANTE A GESTAÇÃO E OS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA.
"Os pais tem uma oportuniade rara de influenciar o desenvolvimento dos filhos e ajudá-los a se tornarem adultos saudáveis. Essa chance surge cedo e dura pouco, por isso não perca tempo." Escolhi parte da introdução de uma pesquisa da FAPESP de 2011 para começar o post de hoje.
Todos sabemos que a gravidez exige cuidado redobrado com a alimentação, já que não pode faltar nutrientes para a mãe e para o bebê. Mas será que sabemos que nutrientes são estes? E qual a real importância de cada um deles? E ainda, o que a deficiência de algum deles podem ocasionar? Pensando
em esclarecer algumas destas dúvidas, falarei um pouco sobre um assunto
extremamente importante, e que, apesar de ser bastante explorando pela ciência
há muitos anos, muitas mamães ainda não o conhece profundamente. Trata-se da
PROGRAMAÇÃO METABÓLICA ou IMPRINTING
METABÓLICO. Como o próprio nome diz a
ideia é compreender como uma experiência nutricional precoce, ainda na vida
intrauterina, a nutrientes, compostos bioativos, exposição ambiental e hábitos
de vida das mães podem programar o metabolismo das nossas futuras gerações.
Ao engravidar,
o organismo da mulher começa um processo de ajustes metabólicos para propiciar condições
favoráveis à vida do bebe. Esta é uma transformação extremamente complexa,
porém a mais natural possível, desde que seja atendida uma necessidade primária,
a alimentação. Hoje já
está bem estabelecido no meio cientifico que, tudo que ocorre durante este
período gestacional é decisivo para que os bebês expressem genes de saúde ou
doença. Infelizmente, o comportamento alimentar da população atual tem
comprometido o desenvolvimento das próximas gerações e aumentado à incidência
de doenças que não deveriam existir em idade cada vez mais precoce.
Diversos estudos tem demonstrado
que excessos alimentares bem como deficiências nutricionais nessa fase podem
predispor o concepto ao aparecimento de doenças com câncer, diabetes e
doenças cardiovasculares na vida adulta. Isso acontece porque as crianças que
crescem em um ambiente restrito em nutrientes, impõem ao seu organismo em
formação, uma serie de adaptações e modificações nas estruturas e funções de
diversos órgãos em busca da sobrevivência. O grande problema é que estes
ajustes são permanentes, podendo gerar
consequências para uma vida toda. Por exemplo, uma má nutrição
intrauteriana pode levar a uma diminuição do número de importantes estruturas
renais (nefrons), aumentando o risco de hipertensão; Também pode resultar na
perda de fibras do coração (cardiomiócitos), prejudicando a função adequada
deste órgão; Além disso, este feto desnutrido terá um desvio de glicose para
órgãos vitais, como cérebro em detrimento do crescimento muscular; Terá também
a função imunológica prejudicada, sendo bebês mais vulneráveis a influências
ambientais e ao estress pós-natal.
Sendo assim a importância de uma alimentação
diversificada e rica em nutrientes nessa fase é indiscutível. Entretanto, é
importante lembrar que aquela ideia de que mulher grávida tem que comer por dois já foi derrubada. Mães que ganham muito peso durante a
gestação e que desenvolvem um quadro de resistência à insulina ou até mesmo o
diabetes gestacional passarão esta informação epigenética a sua prole,
aumentando não só a chance de obesidade da criança na vida adulta, bem como a uma maior
predisposição a alergias, asma e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e
Parkinson.
Além
dos fatores nutricionais, a exposição aos xenobióticos durante a gestação é
outro fator frequentemente relacionado ao surgimento de doenças, principalmente
câncer. Os xenobióticos são quaisquer substâncias estranhas ao organismo e que,
infelizmente, estão amplamente presentes no nosso dia-dia. Podem ser encontrados na fumaça
do cigarro, na poluição, nos agrotóxicos presentes nos vegetais, nos
medicamentos, nas embalagens de plástico utilizadas para guardar alimentos, nos
aditivos alimentares (corantes, conservantes, flavorizantes, edulcorantes) e
até nas embalagens dos alimentos industrializados.
Para finalizar, o outro fator comum no estilo de
vida atual, e que é extremamente nocivo durante a gestação, é o estresse.
Estudos sugerem que ele seja capaz de aumentar as chances de aparecimento de
doenças tanto físicas quanto mentais. De fato, todas as experiências emocionais
durante a gestação vão influenciar a saúde mental da criança.